domingo, 20 de setembro de 2009

OS DEBATES II (Percepções)


Nos meus tempos de juventude, católico praticante, irritavam-me os colegas de liceu que tentavam denegrir e desvalorizar a Igreja Católica, apontando o padre X que tinha uma amante, ou o padre Y que já tinha filhos. Explicava-lhes que era injusto julgarem a Igreja Católica no seu todo, por um padre, em mil. Porque me apontavam um padre específico, que falhara nos votos de castidade, e esqueciam (ou premeditadamente ignoravam) os outros 999 que se tinham mantido fiéis aos votos professados?

Mas é assim a natureza humana. É mais fácil memorizar e atacar a árvore (doente) do que escrutinar toda a floresta (saudável). E a natureza humana não faz excepções, nesta visão. Por isso, nos debates entre os líderes dos cinco partidos com assento na Assembleia da República ficou também claro os que têm árvores (doentes) no seu histórico.

Desde logo, José Sócrates. Um Primeiro-Ministro (e Secretário-Geral do PS) que tomou decisões e fez aprovar medidas que engrandecem e valorizam o debate político (debates quinzenais do governo com a oposição no Parlamento) e a transparência na administração pública (ex.:Observatório das Obras Públicas – onde qualquer cidadão pode consultar os contratos celebrados pelo Estado e os ajustes directos), não podia ter feito a concessão da exploração do Porto de Lisboa por ajuste directo. Muito menos a uma empresa (Mota-Engil) liderada por um “ex” destacado dirigente do PS e ex-ministro de governos socialistas. E não basta argumentar que os pareceres e os estudos do ministério diziam que o ajuste directo era a melhor solução. Porque nem os eleitores os vão ler, nem sabem a que conclusões tinham chegado porque José Sócrates também nunca as referiu. À mulher de César…

Depois, Manuela Ferreira Leite. Uma Presidente do PSD que pretende mostrar ser mais “séria” e honesta que os outros líderes partidários não podia ter apontado a Madeira como exemplo de democracia livre de pressões e tendências controleiras, por contraponto com a suposta asfixia democrática que diz existir em Portugal continental, por culpa do governo. O ridículo tem limites. Ou deveria ter…

Por fim, Francisco Louçã. O coordenador do Bloco de Esquerda deixou transparecer tiques que julga (e se julgava) existirem apenas nos outros líderes. Afirmar que o governo fez a concessão directa da construção de uma auto-estrada (outra vez à Mota-Engil) quando a concessão foi anulada, e insistir na afirmação mesmo depois do desmentido, categórico e provado, por parte do Ministérios das Obras Públicas, mostra duas coisas: que lhe parece que os fins justificam os meios, e que uma mentira, muitas vezes repetida, acaba por se tornar uma verdade. Afinal, não são só os outros…

Salvaram-se desta percepção sobre as “árvores doentes”, os líderes do CDS-PP e do PCP. Paulo Portas utilizou bem a capacidade oratória e retórica, e foi fiel ao que foi dizendo ao longo dos últimos quatro anos. Jerónimo de Sousa foi tudo e foi nada: foi igual a ele próprio, e foi tão “cinzento” que quase não se deu por ele.

JOAQUIM ANTÓNIO - Associado da ALTERNATIVA

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