domingo, 11 de janeiro de 2009

RECORDAR PASCOAES

Lembras-te, Meu Amor,

Das tardes outonais

Em que íamos os dois,

Sozinhos, passear

Para longe do povo

Alegre e dos casais

Onde só Deus pudesse

Ouvir-nos conversar ? …

Tu levavas na mão

Um lírio enamorado

E davas-me o teu braço

E eu pálido, sonhava

Na vida, em Deus, em ti …

 

[…]

 

TEIXEIRA DE PASCOAES, Elegia do Amor (excerto)

3 comentários:

Anónimo disse...

OUVIR CHORAR A PEDRA

(Ode pascoaliana)

Ouvir chorar a pedra é como ouvir
cantar estrelas pela noite além:
apenas o Poeta e mais ninguém
possui a faculdade de o sentir.

Só ele escuta o choro do granito
baixinho no deserto a desfazer-se
em grãos de areia até desvanecer-se
e regressar em alma... ao infinito.

Deus ao Poeta deu o priviégio,
paredes meias com o sortilégio,
de ouvir o pó da terra a conversar.

Tenho por isso às vezes a ilusão
de, meu amor, te estar a escutar,
desfeito já teu doce coração!

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

Em princípios de l951, a academia coimbrã, por iniciativa de Joaquim de MOntezuma de Carvalho, terceiranista de Direto, prestou a Teixeira de Pascoaes uma calorosa homengem,à qual o Grande Poeta brasileiro Manuel Bandeira entusiasticamente se associou com o presente "Improviso", tantas vezes depois declamad, transcrito e recordado:

Glória aos poetas de Portugal.
Glória a D. Dinis; Glória a Gil
Vicente. Glória a Camões. Glória
a Bocage, a Garrett, a João
de Deus (mas todos são de Deus,
e há um santo: Antero de Quental).
Gloria a Junqueiro. Glória ao sempre
Verde Cesário. Glória a António
Nobre. Glória a Eugénio de Castro.
Glória a Mário de Sá Carneiro.
A Pessoa e seus heterónimos.
A Camilo Pessanha. Glória
a tantos mais, a tods mais.

-Glória a Teixeira de Pascoaes.

Nota de JCN

Anónimo disse...

SOMBBRAS DO MARÃO

Ó Poeta das sombras do Marão,
em cujas neves me curti também,
gelados ventos mesmo no verão,
o drama teu... conheço muito bem.

Foi lá que de rapaz me habituei
a falar com os deuses da montanha,
antigas divindades, cuja lei
gravada está no fundo das entrnhas.

Tudo eram sombras por aqueles lados
de míticas lembranças, que ascendiam
aos castros pelos celtas povoados.

Poeta do Marão! todos sabiam
que eras um druída, um género de frade
do lusitano culto da Saudade!

João de Castro Nunes