quarta-feira, 11 de junho de 2008

HÖLDERLIN, O ETERNO


Entre as flores o seu coração estava em casa, como se fosse uma delas. A todas chamava pelo nome, por amor dava-lhes novos nomes mais belos e sabia exactamente a duração da vida de cada uma, na alegria. Tratava a Natureza como uma irmã, como um ser amado, de quem se gostaria de receber a primeira saudação da manhã. E de tudo isto se ocupava aquela serena criatura,absorta na sua felicidade, quando íamos passear ao prado ou à floresta. E tudo isto não era absolutamente nada cultivado, estabelecido. Era simplesmente desenvolvido , à medida que ela crescia. Trata-se, pois, de uma certeza eterna, por todo o lado comprovada: quanto mais inocente e bela é uma alma, tanto mais familiar ela se mantém em relação às outras vidas felizes, a essas que chamamos inanimadas.
HÖLDERLIN (1770-1843), Hipérion ou o Eremita da Grécia.

5 comentários:

Anónimo disse...

Este foi o verso do Poeta que mais fundo se gravou no meus espírito:

"A Poesia na terra nunca morre"!

J. C. N.

Anónimo disse...

CONVERSA INTERROMPIDA


Cada nova manhã que despontava
nos dias de calor e céu azul,
um pensamento logo te assaltava
que era tapar a luz vinda do sul,

não fosse ela atacar as violetas
que tinhas nas janelas e que eram
as tuas confidentes predilectas
nas múltiplas conversas que tiveram.

Era de ver o modo afectuoso
como lhes dirigias a palavra
em frases musicais da tua lavra!

O que elas doravante irão sentir
sem ninguém terem para as distrair
com o feitio teu... tão carinhoso!


João de Castro Nunes

Anónimo disse...

"OLHINHOS AMARELOS"

(Outra versão publicada no poemário "Rucinha")

Sempre que de manhã se anunciava,
com céu azul, um dia de calor,
um pensamento logo te assaltava
antes de vir o sol abrasador:

dar protecção às tuas violetas
que nas janelas eram por sistema
as tuas confidentes predilectas
fosse qual fosse o respectivo tema.

Era um encanto a forma carinhosa
como em pijama ainda e de chinelos
as tratavas de "olhinhos amarelos"!

Sem a tua presença afectuosa
e teu talento... para as entender
calculo, amor, como elas vão sofrer!...

João de Castro Nunes

Anónimo disse...

...palmilhando lonjuras, esquadrinhando paisagens, todos os dias contacto os "inanimados": não o são! Decididamente!
jorge loureiro

Anónimo disse...

FALAR COM ROSAS

Falar com rosas é falar com Deus
que nelas pôs a sua complacência,
sem precisão de O procurar nos céus
onde Ele tem a sua residência.

Nelas eu vejo a sua natureza
em toda a sua extrema perfeição,
deixando-me vencer pela certeza
de nelas eu ter Deus à minha mão.

Se Deus tem cheiro, como às vezes penso,
o mesmo deve ser que as rosas deitam,
mais apurado embora ou mais intenso.

Quando com Deus desejo conversar,
sirvo-me delas, que aos montões enfeitam
as jarras "Vista Alegre" do meu lar!

João de Castro Nunes
(Poema inédito)